(Resgatei aqui esse texto que escrevi em 2008 para a seleção do Curso Abril de Jornalismo – e fui escolhido, o que foi um dos turning points de minha carreira de jornalista –, no Dia Mundial do Jornalismo, 28/9, logo após me emocionar vendo a série The Paper, que com humor fala da crise do jornalismo e traz uma cena em que o protagonista, como eu, lembra que sonhava em ser Clark Kent)
Em dezembro, o jovem Filipe Vilicic, de 21 anos, se forma em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Ao contrário da maioria dos recém-formados, ele não tem medo do desemprego. O grande bicho-papão de Vilicic é a ameaça de ficar afastado de uma redação. “Sem a excitação constante da profissão e incapacitado de poder atuar, posso sofrer até de abstinência”, brinca.
O vício de Filipe Vilicic começou quando ainda era pequeno. De acordo com sua mãe, a administradora Rosana Brozinga, ele se vislumbrou com o jornalismo aos seis anos. “Lembro que meu filho chegou com uma revista do Super-Homem e disse – quando crescer quero ser igual ao Clark Kent”, conta Rosana. “Perguntei: você deseja voar, ser super-forte e rápido?”, lembra. “Não, deve ser legal trabalhar no jornal”, respondeu a criança. Já adolescente, degustou a atividade pela primeira vez. No ginásio, ajudou a criar um jornalzinho do grêmio estudantil do Ítaca, no Butantã. Ao ingressar no colegial, foi para o Bandeirantes, no Paraíso, onde colaborou frequentemente com uma revista mensal feita por alunos e com o site do colégio. Na época, também participou de um curso de jornalismo esportivo promovido pela ONG Aprendiz em escolas particulares.
Arranjou sua primeira encrenca como aspirante a jornalista durante o terceiro colegial. “As eleições presidenciais de 2002 estavam para acontecer e o Bandeirantes colocou o José Serra sorrindo na capa de sua revista oficial, que vai para a casa de todos os estudantes”, lembra. “Era uma evidente propaganda do candidato, trajada como reportagem.” Indignado, ele fez um artigo no jornal do grêmio contra a ofensiva a favor do tucano. “Meu texto não era repudiando o político, mas, sim, a atitude comprometida de uma órgão de ensino.” Vilicic foi reprimido por sua iniciativa. “Me chamaram na sala dos professores e deram uma bronca.”
Ao entrar na faculdade, em 2004, começou a provar diversas experiências como estagiário: uma assessoria de imprensa, dois sites e uma passagem pela rádio Transamérica. Porém, sua dependência pela profissão evolui mesmo na Playboy, em 2006. Ingressar na publicação foi a realização de um sonho. O universitário admira esse veículo desde que começou a faculdade. “Foi lá que me ensinaram o ‘be-a-bá’”, diz Vilicic. “Também aprendi o quê é ser um jornalista – ficar 24 horas atento a pautas, apurar, se necessário, páginas de informação para uma nota e, claro, amar tudo isso.” Entre seus feitos, o garoto entrevistou, em janeiro de 2007, o britânico Alan Moore, escritor das clássicas graphic novels V de Vingança e Watchmen. Foram necessários dois meses para convencer o quadrinista a conceder o papo. “Moore odeia falar com jornalistas, mas topou quando enviei a ele um e-mail elencando dez motivos para ele ceder.”
Após onze meses como estagiário da Playboy, o rapaz decidiu provar outra experiência. “Tinha vontade de saber como é o dia-a-dia em uma semanal”, conta. Em fevereiro deste ano, o estudante mandou um e-mail à Alecsandra Zapparoli, editora executiva de Veja São Paulo, demonstrando seu interesse. Por sorte, havia uma vaga e, na mesma hora, Alecsandra o chamou para uma conversa. Não demoraram trinta minutos para ele recebeu uma ligação com a boa notícia – “quero que comece o mais rápido possível.”
Hoje, Vilicic respira jornalismo. Chega no máximo ao meio-dia na Abril e só deixa a lida bem tarde, por volta das 22 horas. “A agitação faz parte da minha vida e odiaria viver sem ela”, afirma. Durante seu corrido cotidiano, faz reportagens e uma coluna de festas e baladas intitulada Para Dançar na Vejinha e colabora mensalmente com a Playboy, onde mantém uma seção com indicações de histórias em quadrinhos. Seu desejo é poder continuar a trajetória como repórter. Outro emprego o daria o mesmo prazer de “fabricar lingüiça” – expressão que ouviu de Roberto Civita, presidente da Abril, em uma palestra (Civita definiu que qualquer outra profissão além de fazer revistas é tão chato quanto “produzir lingüiça”). O Curso Abril, para o qual está concorrendo neste ano seria o caminho lógico da carreira do estudante. “Tenho a ambição de participar dessa experiência desde que entrei na faculdade”, afirma. “É o momento ideal para aproveitar tudo o que o curso tem a oferecer.”
(Um texto que nada tem demais e era mais pra me vender ao Curso, mas me lembrou de outros tempos, de um jornalismo também de outros tempos, e de meu próprio amor pela profissão; dos motivos que insisto e luto pelo ser jornalista, mesmo em épocas tão sombrias e desafiadores para ser um repórter neste mundo de IAs)
Legal resgastar este texto!
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