Estou lendo um livro, o iGen, da psicóloga Jean Twenge, sobre a geração do iPhone que cresceu já nesse mundo de celulares, tablets, videogames e internet. Descubro que são os que nasceram entre os anos de 1995 e 2015. Aí é quando você nota que realmente tá ficando velho. Com 10 anos a mais do que o mais antigo representante de uma geração anterior à atual.
Mas não só por isso me percebo velho. O livro descreve como hoje são os pré-adolescentes e adolescentes. Eles se veem numa transição que representaria a extensão da infância. Quando eu era adolescente, o sentimento era outro, o de que seria uma fase de preparação para virar adulto, sendo que já nos sentíamos como adultos, rebeldes tomando pinga misturada com Coca e fumando maconha às escondidas.
Aí leio que os jovens de hoje não tomam mais pinga com Coca. Nem fumam mais muita maconha, mesmo que não vejam, assim como boa parcela de seus pais, problema em curtir uma ganja. Afinal, sabem que seus pais já deram uns tapas. Já eles, os adolescentes de hoje, acham mais seguro nem provar o banza.
Descubro que os adolescentes de hoje não são mais muito ligados em sexo. Veem pornô à rodo na internet. Maturbam-se. Mas não ligam de perder a virgindade tarde. Na verdade, acham mais seguro assim, pois ganham tempo para escolher um parceiro ideal. Mais do que isso, um parceiro seguro.
Na minha época, só pensávamos é em ter alguma parceira, ou parceiro. E perder logo a virgindade. A pressão era tamanha. Ainda mais em cima daqueles que, como eu, queriam era mesmo achar a pessoa ideal para perder a virgindade. Só que a prensa da rebeldia, mesmo que fingida, era tamanha que não dava tempo de respirar, muito menos de esperar.
A leitura ainda me revela que mesmo aqueles jovens de hoje que perdem a virgindade não se sentem à vontade para fazer sexo com muitos parceiros, ou parceiras. Apesar de ser a geração mais inclusiva e, como se diz, empoderada quando se trata de questões como a da aceitação dos diferentes gêneros sexuais, trata-se também de uma juventude que, no íntimo, é bem careta. Cabeça aberta, e que bom, para receber gays, pans, trans, andrógenos, duplo-espíritos, queers, fluidos e todos os outros tantos gêneros do Facebook, incluindo os cis. Mas bem fechada, careta, quando julga aqueles que são promíscuos, com muitos parceiros sexuais, gostos sexuais, experiências sexuais, ousadias sexuais. Os jovens de hoje acham perigoso demais, por exemplo, ir para a cama com alguém no primeiro encontro. Nisso são mais parecidos com baby boomers do que com a minha geração, ou a anterior, a dos hippies.
Não à toa parece existir hoje uma típica síndrome que acomete meninos e meninas. Se tem brochado muito na primeira tentativa de perder a virgindade. Juro que foi o que li no livro. Se duvida, questione a Jean Twenge, que exibes pencas de estatísticas para provar o que fala.
Se no meu tempo isso seria motivo para esconder a cara num buraco antes que seus amigos descobrissem e viessem fazer bullying com você, hoje ninguém se importa muito. Algo que, afirma a autora do livro, tem a ver com as ilusões do sexo tal como vendidas pelos sites de pornografia que esses adolescentes conectados de hoje veem desde que eram ainda criancinhas.
A falta de sexo, o gosto por ser uma criança eterna, a aversão total à rebeldia das drogas, ou mesmo o vício em videogames e YouTube, parecem estar ligados a um fato estranho. Os jovens de hoje não saem mais de casa. E tá aí uma expressão que me faz me sentir ainda mais velho: “os jovens de hoje”. Mas aí me toco que, aos meus 30 e poucos anos, pareço estar uns 40 distante dos agora chamados de jovens-adultos de 21 anos de idade. Não apenas uns 10 anos a mais. Por quê?
Repito a frase: os jovens de hoje não saem mais de casa. Minha sensação exagerada de maturidade em relação a quem nasceu entre 1995 e 2015 parece ter também a ver com essa frase.
A juventude hoje prefere mergulhar num jogo de tiro com personagens que parecem saídos dos Looney Tunes a ir para uma balada para tentar se dar bem beijando um garoto, ou garota. Não veem problema em desencanar de tirar carta de motorista aos 18 anos de idade, afinal seus pais podem levá-los para o shopping ou para a casa de um amigo, naqueles raros momentos em que não estão no Instagram ou no Playstation. Ou ao menos assim garante a psicóloga do livro que li. Na minha época, aquele que primeiro conseguia um carro acabava por ganhar mais amigos e amigas, todos afoitos por conquistar a independência de ir e vir para onde for, como um adulto. Era ridículo, mas era assim.
Ao ler que hoje há meninas que passam horas tirando selfies durante festas, sem muito curtir a balada, pois o que importa é sair bem no Insta, recordo de meus anos de juventude, quando ninguém podia tirar foto nas matinês para não correr o risco de os retratos comprometedores caírem nas mãos de pais e mães. Seria ainda mais bizarro se alguém aparecesse numa festa com umas selfies suas em mãos, tiradas numa Polaroid, mostrando o look do dia. Não é isso que hoje fazem no Insta?
Essa geração nascida entre 1995 e 2015 não sai de casa por se contentar em jogar games coloridos em seus celulares, conversar via WhatsApp com os amigos que quase não veem, trocar os esportes da vida real pelo multiplayer do Fortnite. Quando se pergunta a eles quem são seus melhores amigos, a resposta costuma ser algum youtuber. Qualquer um que estiver na moda naquele momento. Eles sempre amam algum youtuber específico.
E se dá xabu na vida, o que fazem? Não digo xabu de verdade, daqueles que causam traumas seríssimos. Mas uma zoeira mais besta na escola, das que eu, que era muito nerd, sofria no recreio até aprender a revidar como o adulto que achava que estava virando. O que fazem?
Como crianças, os adolescentes de 16 anos de hoje pedem para os adultos resolverem, sejam pais ou professores. Se não superam a tristeza, qual é a alternativa? Correm para se refugiar em algo que parece que virou moda, principalmente nos EUA, entre os jovens adultos do séculos XXI: quartinhos coloridos com brinquedos e álbuns de pintar, no estilo daqueles que eu adorava quando tinha uns 6 anos de idade. O livro que falei dá detalhes de como esses refúgios funcionam nos colégios e até em faculdades.
Tô espantadíssimo com o que iPhones, iPads, Twitter, Instagram, Snapchat, WhatsApp, Playstation, Xbox estão fazendo com os jovens de hoje. Cada vez menos rebeldes. Cada vez menos festeiros. Cada vez menos loucos. Cada vez mais crianças. Cada vez menos jovens.
Por isso resolvi estrear esse blog. Para compartilhar meu espanto com os jovens de hoje. Uma juventude reclusa em seus quartos justamente em consequência de algo que acompanho de perto como jornalista, como escritor, provavelmente em eterna versão beta. Algo que me encanta desde minha infância e que me ajudou a superar traumas como o do bullying (não fugindo para um quartinho colorido, mas jogando videogame para sossegar, esquecer e depois recuperar o fôlego para enfrentar a vida como o adulto que eu acreditava que poderia ser). O que é esse algo: a tecnologia. Nosso progresso traz maravilhas. Só que essas maravilhas estão destruindo a chance de maturidade dessa geração nascida entre 1995 e 2015.
Esse blog será para reflexões que brotam de meu trabalho como jornalista e escritor próximo dos assuntos conectados e modernos tocados acima, esses da geração nascida entre 1995 e 2015. Reflexões sobre as quais trato nesta coluna, nestes vídeos, neste meu último livro que aborda a história do Instagram, e que continuará a ser central nos meus próximos dois livros de não-ficção (já próximos da publicação, espero!) e em um de contos e outro romance que ensaio escrever.
Tento acompanhar o ritmo dessa era loucamente conectada. Aliás, me toquei de algo mais: esse blog também é uma forma de retomar o prazer da escrita vagarosa, reflexiva, em tempos nos quais escrever tem sido resumido por muitos a “textões” de Facebook, tuítes inspirados e outras leituras superficiais assim, levando ao sentimento de que se navega por um rio de informações igualmente superficiais no qual a água é turva, impossibilitando de compreender a profundidade de cada coisa.
Aqui compartilharei as angústias que surgem ao estudar, me debruçar, sobre tudo isso que é fruto de um mundo cada vez mais virtual e menos real. Um espanto que talvez só seja tamanho por eu ser representante da última geração que nasceu com a necessidade de ter de sair de casa para conhecer o que for do mundo. Hoje, basta entrar na internet. Ou assim os jovens parecem pensar.
Espero que curtam. E que comentem. E que compartilhem. Desculpe o textão (sei que os jovens de hoje têm dificuldade de ir até o fim em textos longos). Os próximos serão menores 🙂 .