Brasil: rumo à Idiocracia

Não é de hoje que o Brasil me faz lembrar do filme Idiocracia, ou Idiocracy, no inglês – como ficou conhecido pelos que cultuam a produção e que, como eu, às vezes são meio metidos a besta e querem falar tudo no idioma original da obra. Ok, Mike Judge (também do marcante Beavis & Butt-Head e do mediano Silicon Valley) bolou a autocracia dos idiotas em crítica aos EUA. Só que, convenhamos, o Brasil tem se provado um candidato favorito à descrição, mesmo com Trump por lá. Talvez nos EUA a Idiocracia só tome o controle no ano de 2505, como previsto por Judge. Por aqui, nós, brasileiros, poderemos ser bem mais rápidos na corrida: será que a Idiocracia chegará ao poder já a partir do domingo de eleições, transformando a distopia fictícia numa realidade dublada em português em 2018?

No filme, dois seres humanos de QI mediano são congelados nos dias de hoje para testar se é possível preservar o corpo e o cérebro dessa forma. Depois de altas aventuras, acabam inertes na máquina de animação suspensa até o ano de 2505. Ao acordarem, descobrem que os EUA – e, aparentemente, todo o planeta – foi tomado por idiotas. A dupla então se consagra como os mais inteligentes num mundo onde impera o consumismo, o anti-intelectualismo, a não-leitura, os reality shows, a estupidez de uma humanidade que se autodestrói sem se preocupar com o meio ambiente, os estudos acadêmicos, responsabilidades sociais, conceitos de Justiça, direitos humanos, enfim, tudo o que nos transformou numa civilização, digamos assim, civilizada.

Institui-se assim a Idiocracia. Um regime comandado pelos ignorantes que levaram a Terra à beira de um apocalipse ao irrigar plantações com bebida energética. Nessa realidade distópica, o presidente é o mais idiota dentre os idiotas: Camacho, um bombadão que se exibe e se impõe atirando com um fuzil para o alto (confira no link).

Estamos próximos de algo similar no Brasil de hoje. Ao que tudo indica, os idiotas podem eleger o maior dentre os seus para comandar o país.

Somos ainda piores, em quesitos morais, à população estadunidense de Idiocracy. No longa, a idiotia se alastrava sem se importar com etnia ou gênero sexual. A Idiocracia dublada vai além: é racista, misógina e homofóbica (escrevi sobre, no link). E vai ainda além disso. Os idiotas dos EUA de Mike Judge escolheram como líder o mais bombadão entre eles, um cara cujos atrativos eram os bíceps e o jeitão de lutador de telecatch. Nem nesse aspecto nossos idiotas brasileiros optam “melhor”. O idiota mor da nação não consegue nem fazer flexões no quartel.

No entanto, não se engane. Em uma Idiocracia não só os idiotas com antecedentes de idiotias são… idiotas. Todos nós brasileiros comporemos a população estúpida de nossa própria ditadura sem instrução.

São idiotas, por exemplo, os que bateram palma para o idiota mor dançar por tanto tempo, tirando sarro dele. Achava-se que assim ele passaria vergonha coletiva. Todavia, ocorreu o contrário: outros idiotas saíram do armário para votar em seu grande líder e, assim, ganharem aval para sair por aí mascarados batendo em tudo que julgam como errado e quebrando placas em homenagem àquilo que parecem julgar como o resumo do que combatem – uma mulher, negra, lésbica, de origem pobre, admirável, cuja maior “ousadia”, para seus assassinos e destruidores, foi ter conquistado poder (e pelo voto, algo com o qual também não concordam muito, esses aniquiladores de placas e de urnas eletrônicas).

Também se encaixam entre os idiotas aqueles que transformaram o país em campo de uma guerra iniciada no Facebook, prolongada pelo Twitter e pelo WhatsApp, e que começa a tomar as ruas tangíveis. Um conflito onde idiotas se reúnem em dois lados, tão-somente, esquecendo que a humanidade se parece mais é com um polígono de diversos lados.

Em vários quesitos, encaixo-me entre esses idiotas opositores ao idiota mor. Minha meta, agora, é ser ainda mais idiota. Como?

Há um ditado antigo que fala algo como “mais vale um cão vivo, do que um leão morto”. A máxima se aplica muito bem a regimes totalitários. A mensagem seria: seja fiel, submeta-se aos mandos, aceite o que fala o idiota mor, e continue sendo um cão vivo; se quiser se opor, será um leão morto.

Amo cachorros. Mas não vejo um indivíduo que possa se chamar de tal sendo um cão. Indivíduos tem, bem, individualidade, e não são todos os humanos que chegam a esse ponto. Vários se contentam em se comportar como cães vivos servos de um buldogue babão (há uma brincadeira com a comparação no fim deste vídeo).

Sou tão idiota que, frente a ataques à diversidade do mundo insisto em ser um indivíduo. Um de opinião própria, que respeita as escolhas alheias (sociais, sexuais…), e que respeita também essa chamada liberdade de expressão, assim como os tão esquecidos direitos humanos. Torço para que nesse provável (e espero que não vindouro) apocalipse da democracia brasileira, haja muitos idiotas como eu, juntos em prol de nós, indivíduos. Assim, seremos os idiotas que não tem tempo de temer a morte e assim se opõem à Idiocracia.

Afinal, como conversava Hemingway (ou ao menos como o povo da internet afirma que ele falava, em meme que viralizou):
“Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
E isso importa?
Mais do que a própria guerra”.

Continue a ler: Temos de escolher entre 3 mundos. Mas 2 deles fingem que o 3º não existe 

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